O futuro dos concertos já foi inventado?



No último 29 de setembro, os U2 inauguraram a Sphere, a nova sala de concertos de Las Vegas. Dizê-lo assim é pouco. Trata-se da infraestrutura mais cara (facto) e futurista (interpretação segundo as reportagens) de sempre com um custo orçamento de 2,2 mil milhōes de euros. A obra começou a ser trabalhada em 2019 e tem como investidor James Dolan, proprietário do Madison Square Garden, dos New York Knicks e New York Rangers.

 

“O mais impressionante da resolução deste ecrã e o seu potencial foto-realista é que se projetarem o que está por fora do edifício parece que desaparece”, comentou Bono à CBS em entrevista de antecipação à residência dos U2. O convite à banda foi feito em 2021 mas o director criativo dos irlandeses não ficou entusiasmado. Chamou-lhe mesmo “uma ideia terrível” por ser necessário adaptar o concerto à especificidade tecnológica da sala.

 

Porém, as reacçōes foram de deslumbramento. “O cocktail de visuais impressionantes e a performance ligeiramente indisciplinada funciona perfeitamente, dissipando qualquer preocupação de que uma banda da era pós-punk e as antigas conotações de residências em Las Vegas podem constituir”, escreve o Guardian.

 

“Com pouco mais de duas horas, o espetáculo marca a apoteose da ideia de que ‘quanto maior, melhor’ que sempre pontuou a carreira da banda, e da qual os músicos não vão abdicar agora que estão na casa dos 60. O grupo que passou boa parte da sua obra a convidar-nos a pensar em Deus está na cidade do pecado para nos fazer dizer: ‘Oh meu Deus’. E podemos garantir que ouvimos esses mesmos ecos, vindo das pessoas acima e abaixo de nós e à nossa volta, numa espécie de efeito quadrofónico que quase iguala o tão badalado sistema de som da Sphere”, acrescenta a Variety. E a Billboard remata: ““pode mudar o entretenimento ao vivo para sempre”.

 

Portanto, não estamos apenas a falar de um concerto mas de uma experiência imersiva, como se vaticina desde o início da revolução tecnológica. Só que ao contrário de outros testes realizados nos últimos anos, em plataformas como Twitch ou o TikTok, como os The Weeknd e Travis Scott, em que o elemento humano concede à tecnologia quase todo o protagonismo, no caso dos U2 todo o pulsar, da banda ao público, é humano, vivido e sentido.

 

Desde o holograma de Tupac em Coachella, à banalizaçāo de ecrãs verticais em palco, para reproduzir e amplificar os espectáculos em ecrãs, a partir das redes sociais, não têm faltado tentativas de reinventar a música ao vivo.

 

Nos anos 90, os U2 foram a banda que melhor conciliou grandeza e inovação, em grande parte devido às digressōes Zoo TV e Popmart, de 1993 e 1997, revolucionárias no conceito e pioneiras nas tecnologias utilizadas. Conseguirão repetir o efeito?

 

A temporada de 25 noites termina a 16 de dezembro. Bram van den Berg é o substituto do baterista Larry Mullen Jr, que se encontra a recuperar de conjunto de cirurgias aos joelhos, aos cotovelos e ao pescoço.

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