Quando a versão é o pecado original

tributo

Quando a versão é o pecado original

 

Aconteceu em julho em Corroios, na fronteira entre Almada e o Seixal. Um festival apenas dedicado a bandas de versōes, encabeçado pelos mundiais Hybrid Theory. Durante três dias, o Lendas do Rock encheu-se de tributos a clássicos do rock. E a razão para se organizar um evento desta dimensão com bandas até há poucos anos restritas a circuitos como os de bar explica-se facilmente: é a forma possível de “ver” alguns nomes históricos em palco. Pouco importa se é uma mimetização quando o que conta é a emoção. Os grandes refrães, os clássicos maiores, as cançōes intemporais a puxar pelos pulmōes.

 

Guns Or Roses, RHCP (Red Hot Chili Peppers Real Tribute), Black Metallica, Iron Beast (Iron Maiden), AC/DC UK, The Doors Alive, Brothers In Band (Dire Straits), Echoes (Pink Floyd), Definitely Oasis, Soundslave (Chris Cornell), Pearl Band e The Buzz Lovers (Nirvana) foram as bandas de homenagem, além dos Hybrid Theory, a elegia aos Linkin Park. Imagine-se que toda a gente ainda estava viva e se mantinha relevante. Nem nos melhores sonhos de Coachella, Glastonbury ou Woodstock alguma vez se viu um cartaz assim.

 

E depois há os Hybrid Theory, actualmente em digressão pela Austrália, que já percorrem o mundo a reviver o rock emocional dos Linkin Park, preenchido por gritos de socorro, riffs de metal, rimas e scratches de rap. A banda de Lagos formou-se em 2017, ano da perda de Chester Bennington. Estrearam-se no Bafo de Baco em Loulé e de então para cá a escada tem sido sempre a subir. Lotaram a Altice Arena e passaram a ser contratados para os palcos habitualmente frequentados por música de criação original como o Sudoeste ou as Queimas de Fitas. São tidos como a maior banda do mundo de tributo aos Linkin Park.

 

São a cabeça de um movimento de transporte da memória. A face visível de um circuito nem sempre valorizado, muito procurado por músicos de gabarito técnico para encontrar sustento quando o rendimento não chega através de outras fontes criativas. Porém, este mundo há muito existe e tem os seus históricos dentro da história como é o caso dos Led On, a banda de homenagem aos Led Zeppelin.

 

Composta por Paulo Ramos (voz), Mário Delgado (guitarra), Zé Nabo (baixo), Alexandre Frazão (bateria) e Manuel Paulo (teclas), o quinteto tem ligaçōes que vão de Rui Veloso à Ala dos Namorados, a Pedro Abrunhosa e aos Dead Combo. Reproduzir os Led Zeppelin só está ao alcance de alguns mas quem ouça Whole Lotta Love de olhos fechados, não notará grandes diferenças entre o original e a cópia.

 

Outras como os 2U, Foo Riders, A Kind of Queen, Abbacadabra, Depeche Note ou Major Bowie são conhecidas de um circuito invisível mas fiel em que toda a iconografia, como a roupa, é recriada para ser o mais idêntica possível. Até os Xutos & Pontapés têm a sua banda de tributo.

 

E quando os concursos televisivos promovem a ideia de imitação enquanto cartão de visita de propriedades vocais, e nas redes sociais tanta gente se tenta notabilizar através da interpretação de êxitos, esta é a versão transpirada de uma realidade que não parece parar de aumentar. Em músicos, público e reconhecimento dos agentes do meio.

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