Cara de Espelho – Cara de Espelho

cara de espelho

Cara de Espelho – Cara de Espelho

 

“Não me obriguem a vir para a rua gritar”, cantava José Afonso em Venham Mais Cinco. Os Cara de Espelho obrigam-se a tirar a rabeca do sofá, e a arranjar tempo livre para além das outras camisolas já defendidas. Pedro da Silva Martins, o compositor, escreve para meia música portuguesa depois de ter sido guitarrista e autor das cançōes dos Deolinda. O irmão Luís também pertenceu aos Deolinda e está ligado à música contemporânea. Carlos Guerreiro é o mais-que-tudo dos Gaiteiros de Lisboa, incluindo inventor de instrumentos. Nuno Prata o baixista dos Ornatos Violeta. E Sérgio Nascimento baterista de Sérgio Godinho, David Fonseca e Lena D’Água, entre outros afazeres. No canto, ao centro, Mitó, conhecida d’A Naifa e depois das Señoritas.

 

De supergrupo só resta o nome. Cara De Espelho é um confronto do conforto. Músicos na meia-idade ou em estado de maturação avançado, como no caso de Carlos Guerreiro, inconformados com a meteorologia política, os salários, os impostos e o avanço da extrema-direita. No princípio, não era a política mas as afinidades inclinaram este campo para uma forma apimentada de protesto com muito humor como nos versos “quando eu morrer/quero subir ao paraíso fiscal” ou na nauseabunda Varejeira.

 

Os ecos das outras entidades musicais do sexteto são palpáveis mas este é um álbum de hoje e agora, com espírito punk, e combate com algum rock, poesia e ecos de uma tradição de protesto, personificada em José Afonso, Sérgio Godinho e José Mário Branco, que, pelas piores razōes, fazia falta para animar a malta. E animou mesmo uma Cara de Espelho que é fotografia e reflexo de um tempo confuso, conflituoso e sem gema no ovo.

 

Quando Parva Que Sou, dos Deolinda, escrita por Pedro da Silva Martins, se tornou canção-bandeira da geração recibos verdes, em 2010, a música portuguesa ainda estava anestesiada. Nem no hip-hop se sentia um desconforto como o actual. Os Cara de Espelho vêm juntar-se a um coro polifónico, onde militam diferentes vozes e perspectivas, de A Garota Não aos Fado Bicha, Criatura, Dino D’Santiago ou Batida. Música com o dedo sobre a ferida que não precisa de programa eleitoral para ser um bom partido.

 

A banda portuguesa têm três datas em Março, duas em Lisboa e uma no Porto!

Podes comprar os bilhetes aqui: Tour 

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