By Davide: Geração de ouro

slow j

By Davide: Geração de ouro

 

A forma mais eficaz de tirar a temperatura ao estado da música portuguesa é a quantidade de ângulos possíveis sob as quais a podemos observar. Os factos estão à vista. Dillaz bateu o recorde de álbum mais ouvido em dia de estreia, superando o máximo superado sucessivamente por Slow J com Afro-Fado, T-Rex com Cor d’Água e o longínquo The Art of Slowing Down de Slow J em 2019.

 

O Próprio, de Dillaz, chegou na mesma sexta-feira de Trovador de Ivandro, coleccionador de singles milionários a solo em dueto. Seria interessante o Spotify, ou a indústria, divulgar esses números para se ter uma ideia da importância da música portuguesa para os portugueses. No ano passado, 42% da música ouvida no Spotify era portuguesa. Bastante mais do que a quota de 30% de rádio.

 

Slow J tem duas MEO Arenas esgotadas. Números impressionantes ou o topo de uma pirâmide em que os artistas da música oriunda de rua têm vindo a esgotar as mais importantes salas do país, como T-Rex e os coliseus, Dillaz e Piruka nas mesmas salas, Profjam e as duas Aulas Magnas, ou imediatamente antes da pandemia, Plutónio no Coliseu dos Recreios.

 

“Seja bem-vindo à sua nova realidade/Vais receber tudo que tu procuraste/Vais perceber aquilo que começaste/Estas são as condições que tu proporcionaste”, declara agora Ivandro em Passado, a segunda canção de Trovador. Não custa acreditar que esta e outras histórias são autobiográficas, mesmo quando embelezadas para a escrita. O reconhecimento das dificuldades não é negação do sonho. As utopias são imprescindíveis, quanto mais para quem se embrulha em cobertores para não detonar a conta da electricidade. A música é um dos aquecedores de uma geração que cresceu consciente das dívidas a ambicionar a liquidez.

 

E, só neste início de ano, álbuns como os de Silly, Cara d’Espelho, Tiago Sousa, Club Makumba, Mura e Stereossauro, Ricardo Toscano e Gabriel Ferrandini, Silveiira, DJ Kolt ou Carolina Miragaia, são o salto em comprimento que a altura nem sempre deixa vislumbrar. Pode não haver mercado para todos mas todos cabem neste país.

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