As mulheres da nova música portuguesa

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As mulheres da nova música portuguesa

 

Não há números estatísticos mas a conclusão salta à vista: há cada vez mais mulheres a fazer música em Portugal, e em áreas diferenciadas, da pop ao fado, da música popular até a géneros historicamente dominados por homens como o hip-hop e a electrónica. Na era digital, assistiu-se a uma avalanche feminina, de Capicua a Gisela João, de Selma Uamusse a Nenny, de A Garota Não a Ana Lua Caiano e Silly, que deixou a marca do seu batom. Pela amostra recente, a tendência é crescer.

 

Estas são algumas das mulheres a marcar o presente. Já são tantas que o difícil é escolher.

 

Ana Lua Caiano

 

Talvez a maior revelação dos últimos dois anos. Ana Lua Caiano faz barro com electrónica e escreve como uma poetisa acaba de sair da Faculdade de Letras. As cançōes são frescas e literatas. A dialéctica é popular e actual. Qualquer coisa de muito antigo a cheirar a tinta. O álbum de estreia Vou Ficar Neste Quadrado chega no dia 15.

 

Carolina Miragaia

 

Carolina Miragaia é actriz. Protagonizou o novo filme de Leonor Teles Baan. E é também produtora de música electrónica “eco-ambiental”, com princípios semelhantes aos de mestres como Aphex Twin. Laboratorial, floral e esquizofrénica. O EP Exobiological é revelador da diversidade das mulheres da música portuguesa.

 

Iolanda

 

Iolanda está apurada para a final do Festival de Canção e é bem possível que vença porque Grito tem a roupa certa para vencer. É épica, tem lusitanidade e a defendê-la está uma cantora pop inscrita nos novos parâmetros da cultura digital. Vença ou não, Iolanda veio para ficar por ser pop com abertura para a pesquisa.

 

jüra

 

Pode parecer estranho mas entre as heterogeneidade de propostas, continua a não haver uma artista pop do tipo Rihanna ou Ariana Grande de cartão de cidadão português. Poderá a ambição de jüra levá-la até a um espaço vazio de grande interesse popular? Ambição não lhe falta. Escola de rua tem. E cosmética pop também. Será ela ?

 

Lana Gasparotti

 

Dimensions é o título apropriado para descrever o álbum de estreia pianista de treino clássico e cantora Lana Gasparotti. São sete peças de jazz contemporâneo surpreendentemente relacionadas com a cena inglesa, de diálogo entre o acústico e o digital. Em paralelo, é uma das teclistas de Pedro Mafama.

 

Malva

 

Carolina Viana deu-se a conhecer em redoma, dupla desconstrutora do hip-hop, ligada à poesia. No espaço individual como Malva, vens ou ficas é um sereno transmissor de tensão, bebedor de palavras ditas e exercidas como aeróbica de corpo imperfeito. O guião é pessoal, a causa é colectiva.

 

Marlene Ribeiro

 

Marlene Ribeiro pode ser uma relativa desconhecida mas não é uma novata. Fez parte do colectivo britânico Gnod, e trabalhou com Thurston Moore dos Sonic Youth. Gravado entre Irlanda, Gales, Inglaterra e Portugal, o álbum de estreia Toquei no Sol é um tratado de metafísica, inspirado pela avó Emília, de quem usou algumas vozes.

 

Nídia

 

Natural do Vale da Amoreira, no concelho da Moita, Nídia começou por ser Minaj apesar de se ter apresentado como produtora-charneira da família musical da Príncipe. Deixou cair o apelido de rapper e soltou a alma africana no mais recente 95 Mindjeres, inspirado nas guerrilheiras com papel central na luta pela libertação da Guiné Bissau.

 

Rita Vian

 

Foi apresentada como voz dos novos fados mas a gaveta era demasiado pequena para a prolixidade de Rita Vian. Depois de um EP promissor, Sensoreal não é pêra doce. O desafiante álbum de estreia cuida de nós com a ajuda de produtores como Benji Price. Assunto nunca falta, poesia também não.

 

Sara Correia

 

“Dizem: Sara, tem cuidado com o que dizes/Lava a cara, tu não mostres de onde vens”. As primeiras palavras do single Chelas são declarativos. Até ao álbum Liberdade, Sara Correia era fadista de voz grossa. A partir daí, passou a ter uma história para contar. Identitária, bairrista e afirmativa da fragilidade. Entrou na vida das pessoas. Tem coliseus esgotados.

 

Silly

 

Nasceu nos Açores, cresceu no Alentejo e vive em Lisboa. Silly, o heterónimo de Maria Bentes, é o produto desse trânsito, entre a insularidade, a placidez e a modernidade. Depois de um EP promissor no final de 2021, levou o seu tempo a pincelar Miguela, álbum de estreia que concretiza promessas e alarga horizontes.

 

FELIZ DIA DA MULHER !

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