Beyonce – Apropriação cultural?
No final da digressão de Renaissance, Beyoncé desligou os strobes e fugiu para a pradaria. Daí nasceu Cowboy Carter, reivindicação cultural de uma história silenciada. 50% dos cowboys eram negros foi o número descoberto no processo de pesquisa o “álbum country” de Beyoncé, com a artista country progressista e vencedora do Pulitzer Rihannon Giddens. Foram cinco anos de estudo de uma cultura que lhe é inata. Beyoncé pode ter crescido a ouvir soul e r&b de Janet Jackson, Diana Ross ou Aretha Franklin mas é natural de Houston, no Texas, onde actuou em quatro Rodeo anuais entre 2001 e 2008.
A segunda parte da trilogia iniciada em Renaissance foi espoletada por uma polémica. Convidada pelos prémios de música country nos EUA a apresentar ao vivo Daddy Lessons, do álbum Lemonade (2016), a participação na gala gerou um recorde de audiências e o aplauso generalizado. Excepto para os puritanos para quem Beyoncé não pertencia aquela casa. A Country Music Association Awards apagou todas as publicações e a espinha ficou encravada na garganta.
Cowboy Carter é um acto de rebeldia calculada porque o country é mato republicano e um dos estandartes culturais da América. O álbum move-se no triângulo entre tradição, política e cultura pop. Ao percorrer esses cantos, Beyoncé opera sobre o country não apenas como género mas como representação dos EUA e de todas os seus contradições.
É um álbum de ruptura mas não de rejeição. Traz os mestres (Dolly Parton, Willie Nelson), invoca os clássicos (Jolene, This Boots Are Made For Walkin’) e os emergentes (Tanner Adell, Brittney Spencer, Tiera Kennedy, Reyna Roberts, Shaboozey e Willie Jones). Cowboy Carter é country para a cultura pós-género. Mais do que mudar Beyoncé é Beyoncé a mudá-lo.
Comments are closed.