Album Review: Billie Eilish – Hit Me Hard and Soft

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Billie Eilish – Hit Me Hard and Soft

 

Se a ideia é alimentar as comparaçōes com Kurt Cobain, Billie Eilish esmera-se. Em 1993, o terceiro álbum dos Nirvana foi chamado de In Utero e o primeiro single Heart-Shaped Box era sobre…vagina – versão confirmada por Courtney Love. Quem melhor do que ela para ter a certeza?

 

O terceiro capítulo de Eilish chama-se Hit Me Hard and Soft – o título fala por si – e é o mais explícito e provocador. Em entrevista à Rolling Stone, assumia ter localizado as regiōes do prazer. “Sempre gostei de mulheres só que não sabia – até, no passado, ter descoberto – que queria a minha a cara numa vagina”. Mais gráfica era impossível.

 

No processo natural de auto-reconhecimento entre a glorificação da adolescente de 18 anos de When We All Fall Asleep, Where Do We Go? e a mulher a descobrir a intimidade de Hit Me Hard and Soft, há um processo delicado de transição do infinito para o particular, que tem gerido comunicando em nome individual por uma geração. Eilish afirmou-se por ser a voz geracional da consciência global amplificada a partir da autodeterminação individual traduzida em descontentamento. A angústia adolescente cresceu através de um modelo pop simples e doméstico estreitando relaçōes entre conceitos pop familiares e experimentais, como no recurso à técnica de sussurro ASMR em Bury a Friend ou no romance com o tecno minimal em Oxytocin.

 

Nesse complexo confronto entre uma privacidade inegociável e um impacto de que nunca abdicou, o terceiro capítulo expōe as virtudes e defeitos que a perseguem desde o início. A liberdade em que se move é condicionada pela tirania do algoritmo e pelas obrigaçōes sociais de uma primeira dama. Antes de ser uma figura reformuladora do acontecimentos, é fruto das circunstâncias. E a pop conformista e confortável de Hit Me Hard and Soft é um hambúrguer vegetariano no MacDonalds. Pode parecer que está a trincar o sistema quando está apenas a ingeri-lo e, desse modo, aceitá-lo.

 

Pode parecer um gesto de ruptura mas é um acto de rendição. Lá porque a carne não é animal não quer dizer que os legumes não sejam de estufa. Atirar o lixo para debaixo do tapete é diferente de o varrer. Ao contrário de Cobain e dos Nirvana, Eilish procura a unanimidade e não a ruptura. Porque na geração Z, a militância se confunde com merchandising e a validação é biométrica e não humana. Até o protesto se mede com números e o capitalismo sempre adorou capturar a contracultura.

 

Em Hit Me Hard and Soft, há uma belíssima entrada chamada Chihiro mas falta-lhe o prato principal. Pode parecer uma refeição caseira mas é igual à dos outros restaurantes. O empratamento vertical é atraente mas o sabor é o mesmo. Muito mais soft que hard.

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