Concertos com História #12: Smashing Pumpkins em Cascais

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Concertos com História #12: Smashing Pumpkins em Cascais

 

A primeira recordação na mítica estreia dos Smashing Pumpkins em Cascais não entra pelo canal auditivo. O kispo ainda está húmido da chuvada de meia-noite de 2 de maio de 1996. Quem esteve na Praça de Touros de Cascais guarda duas memórias: o concerto explosivo e a molha, já que o bilhete coitado deve ter-se desfeito em mil pedaços.

 

Os SP aterravam em Portugal a olhar do topo da torre de marfim dos socialmente excomungados – a história do rock foi quase sempre escrita pelos falhados do secundário –  ainda sem imaginar o tombo que se seguiria. Mellon Collie & The Infinite Sadness era o (duplo) álbum de rock do biénio 95/96. O verso The World Is a Vampire catalisava angústias adolescentes. O refrão Despite All My Rage/I am Still Just a Rat in a Cage cuspia fogo. Bullet With Butterfly Wings era a tempestade perfeita e Zero a trovoada com o riff angular a guiar o crescendo de tensão paranóica. A descendente do shoegaze 1979, com a caixa de ritmos e o som lo-fi, esteve para ser escorraçada do alinhamento mas acabou por entrar para a galeria de singles pela sua incaracterística. E ainda havia Tonight, Tonight, a balada universal com a potência de desabar aguaceiros.

 

Clássicos instantâneos que faziam as delícias de uma geração já orfã de Kurt Cobain, desconfiada dos passos ao lado dos Pearl Jam, que experiências posteriores como No Code (1996) e Yeld (1998) confirmariam. Se o grunge alguma vez existiu, já estava defunto em 1996. Nada que detivesse a voz de comando do megalómano e longilíneo Billy Corgan, que ambicionava fazer de Mellon Collie & The Infinite Sadness o seu The Wall. Conceptual, sociopolítico e alternativo. O baluarte de uma geração deserdada. Conseguiu.

 

Ainda não havia Internet ou ecrãs verticais a multiplicar os acontecimentos. O público ia aos concertos para ver algo irrepetível e irreproduzível. Quem estava, estava. Quem não estava, ouvia falar nos dias, semanas, meses e anos seguintes. Relatos e rumores alimentavam a fantasia, como nas velhas lendas. Assim se explica como uma noite em 1996 perdura até hoje na memória colectiva – e não só na de quem esteve em Cascais.

 

O concerto foi um dilúvio de emoçōes. Catártico, impulsivo e colectivo. Tudo aquilo que se pedia, foi servido. Os singles de Mellon Collie, as muito aguardadas Today e Disarm e longas descargas eléctricas no tandem Porcelina/Rocket, em X.Y.U. e na penúltima Silverfuck.

 

Em palco, Billy Corgan (guitarra e voz), James Iha (guitarra), D’Arcy Wretzky (baixo), Jimmy Chamberlin (bateria) e, pela penúltima vez, o teclista Jonathan Melvoin. Em julho, o músico, que se juntara à banda no início do ano, e o baterista compraram uma heroína muito potente. Na véspera dos concertos no Madison Square Garden, os dois começaram a beber no quarto do Regency Hotel, de Chamberlin, e injectaram-se. Melvoin já não regressou e foi declarado morto durante a noite. A autópsia foi conclusiva: o óbito devera-se a um cocktail de álcool e drogas pesadas. Foi o início do fim dos SP que perderiam a baixista depois de Adore, o álbum da ressaca, e não mais voltariam a sublimar a megalomania e a conciliar o abismo com o céu como nos primeiros álbuns.

 

Os Smashing Pumpkins estão de regresso a Portugal este ano, com um concerto marcado para o dia 11 de Julho no NOS Alive. Podes comprar o teu bilhete aqui.

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