Entrevista: GANSO (Tour Vice Versa)

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Entrevista: GANSO (Tour Vice Versa)

 

Ainda tem as mãos sujas de tinta o novo álbum dos Ganso. Vice-Versa foi escrito em papel de jornal enquanto gravavam em Paris com o produtor Anthony Cazade, cúmplice de Alex Turner, e Domingos Coimbra, baixista dos Capitão Fausto e membro da Cuca Monga, por quem editam.

“Uma brincadeira com pés e cabeça”, assumem, sobre um álbum em que conservadorismo e progresso não vão a votos. Coexistem em harmonia entre desenhos animados e fétiches fonéticos.

Este sábado (dia 9), há concerto no Bang Venue, em Torres Vedras, dia 22 em Famalicão e a 14 de dezembro em Faro. A apresentação em Lisboa faz-se no B.Leza: como o concerto de 19 de dezembro já se encontra esgotado, quem não conseguiu ingresso tem uma segunda oportunidade na noite anterior.

 

Na apresentação do álbum, referem que “à medida que surgiram as letras, o grupo rapidamente percebeu que havia um padrão narrativo que serviu de princípio para as restantes por criar: parecenças que afastam e diferenças que aproximam”. O Vice Versa fala de contrários que se tocam? Tem alguma conotação política?

Todas as músicas abordam a convivência e o diálogo entre dois lados e isso é uma das características da política. Não diria que é um disco político. Algumas músicas podem ter mais essa conotação. “Nos Anos 20” é o tema que mais se encaixa nesse espectro. A letra é sobre conservadorismo e progresso, mas também sobre desenhos animados.

 

Gravaram em Paris. Precisavam de sair de Portugal?

Felizmente, de uma perspectiva técnica, não é preciso sair de Portugal para gravar um disco. Queríamos estar isolados e afastados das nossas vidas de cá e como La Frette funciona também como residência, foi a escolha ideal. Obviamente também oferece excelentes condições de gravação, isso pesou muito na decisão.

 

Os Estúdios La Frette estão alojados numa antiga mansão centenária. Alguns dos estúdios míticos ganharam uma carga histórica através de lendas, além dos discos que acolheram. Foram em busca de um som e de uma história?

Sem dúvida. Foram também o som e a história que nos levaram lá. Todos os nossos trabalhos anteriores foram gravados de uma forma muito familiar e caseira. Temos muito carinho por isso mas não têm o som nem a história deste disco.

 

O produtor Anthony Cazade tem trabalhado bastante com Alex Turner (e com Nick Cave). No som do Vice Versa, notam-se as marcas clássicas dos Last Shadow Puppets e do Tranquility Base Hotel & Casino dos Arctic Monkeys. Procuraram esse som?

Não procurámos directamente o som desses trabalhos mas sabíamos que estávamos em boas mãos ao sermos gravados por alguém com o currículo do Anthony. Ele opera aquelas máquinas com uma velocidade espantosa, deu muitas sugestões para efeitos e experiências de som que foram quase sempre aceites e também desenvolveu afecto pelas canções, como se também fossem suas.

 

O Domingos Coimbra (Capitão Fausto) também produziu convosco o disco. Era importante ter alguém que vos conhecesse?

Foi muito importante o trabalho do Domingos porque em muitos momentos da pré-produção ajudou-nos a desbloquear ideias e desafiou-nos a tomar abordagens diferentes. Os nossos gostos estarem alinhados somados ao facto dele ser amigo e forasteiro, tiveram relevância quando chegávamos a becos sem saída.

 

O single Fetiche Fonética remete para uma época dos anos 60 em que a pop europeia, francesa e italiana, era dominante. Esse pretérito inspirou-vos? Como chegaram ao Le Feste Antonacci?

Já éramos fãs da banda e no ano passado conheci um deles em Lisboa, quando veio cá tocar baixo na banda do cantautor francês Antonin. Como eles moram em Paris e gostamos da música deles, quisemos deixar o registo da colaboração de uma banda local no nosso disco. As semelhanças a esse pretérito acabam por ser uma coincidência natural.

 

O Vice-Versa está cheio de humor inteligente e sarcasmo auto-infligido. É justo dizer que os Ganso trabalham com seriedade sem se levarem demasiado a sério?

Não posso dizer que é uma afirmação injusta. Para nós, fazer música é uma brincadeira com pés e cabeça.

 

 O disco transparece um ambiente geral de farra e galhofa no ambiente da banda. A percepção é real?

É muito comum, durante o processo de criação, o riso ser a forma de expressão natural para reagir a uma ideia que nos agrada. É um bom sinal que essa galhofa seja perceptível.

 

Estiveram em Leiria e até ao final do ano, ainda vão a Braga, Torres Vedras, Famalicão e Faro. Ainda faz sentido falar-se num “país real” assimétrico dos grandes centros? Há público(s) em cidades mais pequenas?

Na última tour que fizemos, houve sempre público em todas as cidades onde tocámos (felizmente!). Outro ponto positivo é a existência de clubes com condições para concertos com um rider técnico como o nosso. Por outro lado, também sentimos alguma dificuldade em marcar concertos fora de Lisboa, Porto e litoral. Este ano vamos a Faro mas não damos um concerto no Algarve em nome próprio desde 2019.

 

O Sorte a Minha propagou-se no TikTok. Conseguem explicar como? Mudou alguma coisa nos Ganso?

Nenhum de nós é utilizador do Tik Tok e quando soubemos desse caso viral já estava numa fase avançada. O algoritmo teve mão nisso. Talvez só uma equipa de matemáticos e psicólogos consiga dar uma explicação mais concreta. “Sorte a Minha” foi feita na mesma altura que outras músicas do Vice Versa mas decidimos lançar antes para manter alguma actividade nos lançamentos. A única coisa que mudou foi mais público nos concertos. Continuámos a trabalhar no disco que já tínhamos começado.

 

Podem comprar bilhetes para a tour Vice Versa dos GANSO aqui:

TORRES VEDRAS

FAMALICÃO

FARO

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