By Davide: De que lado está a Inteligência Artificial?
O que esperar de 2025 além de conflitos, tentativas de controlo da mente e intençōes de desmantelar a democracia? O que desejar de 2025 além de paz, igualdade e amor? Nesta dualidade sufocante, a incerteza é tão garantida como a previsão segura de que a inteligência artificial será o grande acontecimento prático de 2025. Porque a IA já prolifera no dia a dia, em instrumentos como o GPS, motores de busca ou algoritmos, mas não ainda como ferramenta invisível e tão democratizada que se torna inquestionada.
A própria definição da IA é dúbia. Os limites infinitos tornam a sua evolução imprevisível. As possibilidades podem ser tão fascinantes quanto a perversão ia de que o conhecimento deixe de nos pertencer e a IA nos transcenda. Tudo depende se a inteligência emocional for capaz de controlar a inteligência artificial, e isso só é possível com regulação. O legislador terá celeridade de resposta para o progresso?
A IA pode não vir a mudar o mundo como o conhecemos mas vai transfigurar a Internet como a concebemos. E na música, as interrogaçōes começam pela autoralidade – o pulmão da criação. Quando do início da transformação digital, a partilha ilegal de ficheiros MP3 através de servidores como Napster, Soulseek, Kazaa, eMule (e a famosa versão portuguesa Mula da Cooperativa), veio provocar um processo acelerado de desmaterialização de suportes físicos – no caso, o CD, em voga desde a década de 90 – que a indústria não conseguiu resolver com processos em tribunal e outros recursos.
O modelo do streaming trouxe um equilíbrio possível, embora imperfeito, entre acesso e monetização, com queixas sobre a distribuição do rednimento. A IA anuncia a chegada de um exército de criaturas anónimas, sem rosto ou cheiro, capazes de reproduzir comportamentos humanos como padrōes criativos, que podem não ter autoralidade ou marca própria mas vão necessariamente confundir o sistema actual e introduzir novos problemas.
Um estudo da Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores (CISAC), representante de mais de cinco milhões de criadores em todo o mundo, antecipa perdas de 22 mil milhões de euros em cinco anos nos sectores da música e do audiovisual. Já as receitas com conteúdos gerados por IA podem crescer “de três mil milhões de euros para 64 mil milhões de euros”. Porém, o aumento pode não reverter para artistas “humanos” se não houver legislação responsável e dinâmica a acompanhar a vertigem da evolução tecnológica.
Além disso, plataformas como o Spotify estão a introduzir hordas de zombies em playlists temáticas e a apagar misteriosamente alguns protagonistas de subgéneros como a música ambiental. É um sinal dos tempos que aí vêm de insegurança e crispação. Querer interromper a marcha tecnológica é como parar o vento com as mãos. Resta saber para que lado soprará.
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