Concertos com História #17: Frank Sinatra no Estádio das Antas

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Concertos com História #17: Frank Sinatra no Estádio das Antas

 

Podemos falar de lendas? Francis Albert Sinatra. 76 anos. Chamam-lhe Frank. “The Voice”, a gravura da imortalidade. A noite é 7 de junho de 1992 e o palco o do Estádio das Antas. Um domingo sem jogo, pouco depois de o FC Porto de Carlos Alberto Silva se ter sagrado campeão. Nos livros, é o primeiro e único concerto de Sinatra em Portugal. É isso. O crooner dos crooners “veio cá”. Alguém se recorda ou esteve lá? Ajudamos a reconstruir a história.

 

Segundo a imprensa da época, Sinatra apresenta-se com uma orquestra de mais de 40 músicos em palco, dirigidos pelo filho, Frank Sinatra Jr. Os bilhetes, ao preço mínimo de quase cinco contos (25 euros) e máximo de 30 contos (60 euros) por pessoa, são vendidos em exclusivo aos balcões do antigo Banco Nacional Ultramarino (BNU). Não se esgotam, longe disso. Sete a 15 mil é o intervalo apontado pelos jornais, apesar da expectativa alimentada nos dias anteriores pela imprensa.

O aparato é grande. Sinatra chega às Antas em limousine escoltada por motas da polícia, conta o Público. Em Audi azul escuro, acrescenta o Correio da Manhã, “ao lado de uma acompanhante, não a mulher”. Sabem-se outros pormenores: a viagem de jato particular, a permanência fugaz – não mais de cinco horas – os doze seguranças, o Camel sem filtro no camarim e o Jack Daniel’s no palco.

Na lista de exigências há um televisor a cores, um piano, telefone, dois sabonetes, toalhas, guardanapos de linho, 12 caixas de rebuçados para a tosse, latas de sopa Campbell’s, sanduíches de ovo com salada de frango e peru. Ter-se-á servido de tudo? O hotel Sheraton do Porto tinha preparado a suíte presidencial, mas só o filho pernoitou.

Vestido de fato e gravata, lenço vermelho no bolso do casaco, não falha os clássicos. Ouvem-se Come Fly With Me, All or Nothing At All, Strangers in The Night, I’Ve Got You Under My Skin e Old Man River. Pouco mais de uma hora paga em quilate. 140 mil contos, ou seja 700 mil euros ao câmbio actual.

Porém, as impressões não são entusiasmantes. “Desafinado e pouco comunicativo”, é a descrição sumária do serão. O Público titula a reportagem de “à sombra da glória”. Jorge Dias nota uma “figura decadente, mas ainda com alguma altivez” e não poupa no ácido. “O homem está quase gagá, pálido reflexo de tempos portentosos”. No Diário de Notícias, João Botelho da Silva, não discorda mas é mais brando. “O fôlego lendário está reduzido, mas o timbre não perdeu nada em espessura, a dicção permanece acutilante, o timing imperturbável”.

 

A prova viva da lenda é respondida por uma parada de estrelas na plateia. Da burguesia de milionários, a políticos influentes, artistas e famosos, reconhecem-se figuras como Américo Amorim, Dias Loureiro, Proença de Carvalho, José Lello, Fernando Gomes, Pinto da Costa, Arlindo de Carvalho, Valentim Loureiro, Maluda, Amália Rodrigues, Carlos do Carmo (o Sinatra português), Filipe La Féria, Júlio Isidro, Augustus e Teresa Guilherme. E há uma primeira parte, assegurada por Herman José, o artista de todas as variedades, acompanhado por Ana Bola e um “órgão japonês”.

Herman ensaia “como seria a primeira parte de um concerto de Sinatra no Japão”, segundo o Público, faz striptease, veste-se de Maximiana e José Estebes, e nem faltam piadas sobre Francisco Alberto, ou seja, Francis Albert Sinatra.

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