
Final do Mundial de Futebol: o novo Super Bowl?
“Posso confirmar o primeiro espetáculo de sempre ao intervalo da final de um Campeonato do Mundo, em Nova Jersey, em associação com a Global Citizen. Este será um momento histórico para o Campeonato do Mundo, e um espetáculo à altura do maior evento desportivo do mundo”. A afirmação não tem pai incógnito. Pertence a Gianni Infantino e foi publicada a 6 de março nas redes sociais do Presidente da FIFA.
Não se trata, portanto, de hipótese ou boato. É um facto a ser consumado no Campeonato do Mundo de 2026, a realizar-se nos EUA, Canadá e México. Na mesma publicação, o responsável máximo do futebol mundial agradece a Chris Martin e Phil Harvey, dos Coldplay, pela ajuda que irão dar a elaborar a “lista de artistas” para o intervalo da final jogada a 19 de julho, e para os espetáculos prometidos em Times Square, “para o último fim de semana do Campeonato do Mundo”.
O objectivo da FIFA não é apenas lúdico. As competiçōes mundiais e europeias já têm direito ao seu momento musical de abertura. Jungkook (BTS) interpretou Dreamers na abertura do Mundial do Catar, em 2022, Robbie Williams cantou, juntamente com a soprano russa Aida Garifullina, no Mundial da Rússia, em 2018, e David Guetta levou Zara Larsson à noite de abertura do Euro 2016, no Stade de France. Copa América, as Copas Libertadores e a Sul-Americana também têm o seu número musical.
Não se trata de uma novidade absoluta, mas o modelo da FIFA é outro e conhecido: o Super Bowl. E aí, os cifrōes dilatam as pupilas: só este ano, 127,7 milhōes de espectadores de média, 137,7 milhōes no pico de audiências, 133,3 durante a actuação de Kendrick Lamar, 7,3 milhōes de euros por um anúncio de 30 segundos, e um impacto económico de mais de 450 milhōes de euros.
É pouco tempo a valer muito dinheiro porque há muita gente em todo o mundo a seguir a final do Campeonato Americano de Futebol e se é verdade que a espectacularização do evento já o democratizou por todo o mundo, o futebol (soccer) é o maior acontecimento das sociedades europeias e sul-americanas. Por isso, tem um potencial de transversalidade geográfica maior do que a final da NFL, disputada entre equipas americanas.
A importância mediática da mais importante competição futebolística de selecçōes, a participação de equipas de todo o mundo e a democraticidade do futebol enquanto desporto-indústria não deixam margem à declaração de Infantino. Resta saber o resultado do apuramento musical da final. Conseguirá o mundial impor a sua tarifa à imperialização americana e divergir a proposta artística do Super Bowl?
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