Bad Bunny: o novo normal

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Bad Bunny: o novo normal

 

Benito Antonio Martínez Ocasio. Quem? Bad Bunny, ou Benito, como agora os que lhe cobiçam um pedaço, é um homem que percebeu cedo que a periferia tem mais futuro do que o centro. Nascido em Vega Baja, longe do glamour de Miami ou do brilho cintilante de Los Angeles, Bad Bunny não quis adaptar-se ao molde. Se há uma figura que encarna o presente da pop global — múltiplo, trágico e carnavalesco — é este porto-riquenho de voz rouca e olhar fatigado.

Em vez de procurar a validação dos circuitos dominantes, foi o centro que teve de aprender a dançar ao seu ritmo. E que ritmo: um reggaetón menos maquinal do que o costume, que carrega o peso das esquinas, das festas ilegais, do suor, mas também da ironia e da ternura. Há um gesto de reapropriação política no modo como Bad Bunny faz de cada batida uma afirmação de identidade hispano-americano. Sem pedir desculpa nem licença.

A sua estética é profundamente contemporânea: tanto cita Walter Mercado como Kurt Cobain, tanto usa saia como acena ao wrestling. Um homem de mil disfarces, que não se esconde — reinventa-se. No palco, é Dionísio e Orfeu; no Instagram, é meme e militância. Denuncia o machismo e o colonialismo, mas fá-lo entre uma coreografia e um refrão infeccioso. A sua política é dançável, a sua festa é resistência.

Un Verano Sin Ti não é apenas um dos álbuns mais escutados da década — é um mapa emocional de uma geração que cresceu entre catástrofes, satisfeita por alegrias que duram três minutos. O seu sucesso estrondoso, longe de ser casual, é o reflexo de uma operação cultural inteligente: transformar o “outro” em norma, o espanhol em linguagem franca da pop, e a vulnerabilidade masculina em arma de sedução de massas.

Bad Bunny é uma metamorfose transformada em ícone global, com o poder de contrariar retrocessos culturais e legitimar a diferença cultural, sobretudo nos EUA, onde o peso da comunidade latina é titânico. Em Espanha, foram vendidos 600 mil bilhetes em 24 horas e esgotadas 12 noites. Em Portugal, nunca se tinha visto uma corrida assim. Dentro de um ano, a 26 e 27 de maio, o país pára.

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