Concertos com História #18: Madonna no Pavilhão Atlântico

madonna portugal

Concertos com História #18: Madonna no Pavilhão Atlântico

 

2004. Anuncia-se a estreia de Madonna em Portugal. É o grande ícone mundial da pop da época. Michael Jackson está vivo, mas a pele já se desfaz. Kylie Minogue quis mas não conseguiu. Beyoncé ainda forma o seu exército de abelhas. Lady Gaga acaba de dobrar a maioridade e responde por Stefani Joanne Angelina Germanotta, estudante de música e artes em Nova Iorque.

 

A era dos estádios já terminou, e a sala anfitriã dos grandes espectáculos em Lisboa passa a ser o Pavilhão Atlântico, inaugurado após o final da Expo ‘98. A indústria musical está em profunda transformação, e a aprender a lidar com um glutão chamado Internet. As vendas quebram diariamente, e as grandes estrelas lutam para preservar o estatuto, como o caso dos Metallica que perdem anos de vida em tribunal a lutar contra o Napster. Madonna essa parece ter sido imunizada.

 

Vinte anos depois de se ter estreado, mantém-se nova embora o retrovisor comece a avistar a chegada de uma classe pop para o novo milénio. A história dos concertos no Pavilhão Atlântico a 13 e 14 de setembro de 2004 começa no final de julho, quando a primeira noite é anunciada. Mal os bilhetes são postos à venda, em postos especializados e sem limite por pessoa, esgotam. Segundo o jornal Público da época, os primeiros ingressos a voar são os mais caros: parte do Balcão 1 (151 euros) e a Plateia em pé VIP (126 euros). Só depois esgotaram os bilhetes para o Balcão 1 (76 euros) e a Plateia em pé (61 euros). São preços exorbitantes para a época, mas ainda assim, insuficientes para estancar as filas. É uma correria nunca antes vista. A loucura torna-se manchete. A estreia de Madonna em Portugal antes de o ser em setembro, já o era em julho. A procura é tanta que um segundo concerto é agendado para a noite seguinte pela Música no Coração – ainda a promotora de Luis Montez e Álvaro Covōes.

 

E é chegado o grande dia. Dois, aliás. Madonna pisa pela primeira vez palcos portugueses para se despedir da Re-Invention Tour, a provocada por American Life, um álbum crítico do regresso armado ao Iraque, assente em guitarras country como as do single. Beleza americana, só que não. É a digressão mais lucrativa desse ano.

 

O espectáculo é um dos mais politizados de toda a sua carreira. O guião centra-se na tensão entre guerra e unidade. O alinhamento divide-se em cinco actos: Bloco Francês Barroco/Renascimento de Maria Antonieta, Bloco Militar/Exército, Bloco Circo/Cabaré, Bloco Acústico e Bloco Escocês/Tribal. American Life tem um papel central mas não exclusivo. Revisitam-se os clássicos com novas roupagens. Vogue é a primeira a desfilar em cena. Por ordem de entrada, são convocadas Express Yourself, Material Girl, Like a Prayer e uma versão de Imagine de John Lennon. Já no encore, Into The Groove, Papa Don’t Preach e Holiday, interpolada por She Wants To Move, dos N.E.R.D.

 

Madonna há-de trabalhar com Pharrell Williams, Timbaland e Kanye West dois álbuns depois em Hard Candy, e haverá de se mudar para Lisboa anos mais tarde. Consta que a paixão começou aqui.

There are no comments

Comments are closed.