Concertos com História#2: Rage Against The Machine no Optimus Alive
2008. Após um ano de estreia de reconhecimento do piso, o Alive jogava todas as cartas. A Optimus entrava em cena como patrocinador principal e, como o primeiro dia coincidia com o Super Bock Super Rock, a Everything Is New não se poupava para esmagar a concorrência. No palco (secundário) Metro, as sensaçōes do novo indie MGMT, Vampire Weeknd e ainda os Cansei de Ser Sexy, entretanto cancelados. No palco Optimus, Spiritualized, The National, Gogol Bordello, The Hives e Rage Against The Machine. Pela noite dentro, havia ainda Hercules & Love Affair, Boys Noize e Tiga. Era muita carga, quando do outro lado da cidade, no Parque Tejo, o SBSR respondia com Duran Duran, Beck e Mika.
Conta-se que a Música no Coração quis manter a data, acreditando ser possível vencer o leilão pelos RATM, mas a Everything Is New terá pago um valor histórico, bem acima do milhão de euros de referência para um cabeça de cartaz deste peso. E apesar de só à quarta edição, o festival ter atingido o equilíbrio de contas, a médio-prazo o investimento compensou. Foi uma noite histórica, viva na memória como se fosse ontem.
Era um duro combate entre festivais, promotoras e geraçōes. Entre os anos 90 rock dos Rage Against The Machine ou os 80 pop dos Duran Duran, quem iria parar a cidade? O título da reportagem do Público sobre o SBSR responde: “O festival que nunca existiu”. Os Rage Against The Machine foram avassaladores e arrastaram cerca de 40 mil pessoas ao Passeio Marítimo de Algés. Do outro lado, pouco mais de quatro mil pessoas compunham pouco mais do que um Coliseu no Parque Tejo.
Números são factos, o resto são emoçōes colectivas e individuais. Quando os sirenes de emergência irromperam do palco, o público correu para ganhar posição frontal. Uma Battle of Lisbon unificadora de ideias e apelos à insurreição. Recorde-se algo decisivo: os RATM não foram apenas uma das bandas rock mais explosivas dos anos 90. Desde os Clash, que não havia um grupo rock politizado tão capaz de espalhar uma mensagem revolucionária.
Que melhor momento do que 10 de julho de 2008 e melhor lugar do que o Passeio Marítimo de Algés para incitar à revolta? Testify detonou a bomba e, a partir daí, foi só rebentação. Bombtrack a antecer Know Your Enemy; Bullet In The Head, Guerilla Radio e Sleep Now In The Fire causaram tumulto. E, acima de tudo, um acordar colectivo para um real de problemas camuflados, desde a distribuição desigual dos rendimentos e exploração dos trabalhadores, ao racismo.
A experiência de ver os RATM foi extasiante mas do palco vinha desconforto e raiva. De todo, foi uma noite de festa. Alegria só a de finalmente nos confrontarmos com eles – para muitos, uma primeira vez depois de terem vindo ao Super Bock Super Rock em 1997 com Evil Empire no bolso.
Enquanto se aguardava pelo encore, ouviu-se a Internacional Socialista. E no regresso, uma dedicatória sentida de Zack De La Rocha a José Saramago, respondida com um aplauso ensurdecedor. Estava livre a pista para Killing In The Name of. E voltámos para casa felizes e descontentes.
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