Cinco mulheres que estão a mudar a música portuguesa



Cinco mulheres que estão a mudar a música portuguesa

Longe vão os tempos em que se contavam pelos dedos as mulheres a fazer música em Portugal. Se no fado quase sempre houve mais vozes femininas do que masculinas, em todos os outros géneros as mulheres sempre foram excepção ou omissão. Nos últimos anos, porém, o quadro alterou-se. Apesar de o ecossistema da música popular ser ainda bastante masculinizado, há cada vez mais mulheres e espalhadas por diferentes tabuleiros, alguns deles historicamente pouco amistosos para o sexo feminino como o rock, o hip-hop ou a electrónica. No Dia da Mulher, destacamos uma mão cheia de mulheres representativas da mudança e que, por isso, não só falam por si como simbolizam partes de um todo maior a mudar para melhor.

 

A Garota Não

 

A música de A Garota Não era precisa e muita gente precisava desta música. Transparente, combativa, corajosa, sem medo de pôr o dedo na ferida, mas também sem vergonha de acreditar na mudança. Longe de ser uma novata no Cartāo de Cidadão, embora recente no meio, deu nas vistas em Ready (Mulher Batida), dos Orelha Negra, mas foi o álbum 2 de Abril, uma homenagem ao bairro setubalense que sempre tratou como casa, que a catapultou para o aplauso colectivo. Herdeira da melhor poesia musical de José Afonso, Sérgio Godinho, José Mário Branco ou Fausto, é prima do rap, tem em mãos um dos discos mais esmagadores do século, em Portugal, e o poder de provocar catarses coletivas.

 

Ana Moura

 

De Ana Moura sempre se suspeitou ser mais do que fadista. O que para quem cantou soul nos primórdios não seria de todo uma surpresa. Em Desfado e Moura, ensaiou cruzamentos, misturas e estímulos a autores exteriores ao fado, sem nunca ter alterado a morada. Casa Guilhermina é mais radical porque não só rompe esteticamente com o passado, como quebra o elo com as estruturas com quem há muita trabalhava. Para a artista portuguesa mais bem sucedida comercialmente da última década, não é coisa pouca mas sinaliza apenas um período de vontade própria e escolhas auto-determinadas. O fado não morreu mas agora veste de outra forma, enamorado pela África lisboeta, pelos Anjos e por Arroios, e não só por Alfama. E as andorinhas cantam…

 

Marta Pereira da Costa

 

Marta Pereira da Costa é instrumentista. Toca guitarra portuguesa o que, por si só, já é uma raridade. Porque, se falamos de mulheres, na música, as cantoras proliferam, as produtoras estão a afirmar-se e instrumentos clássicos como o piano ou a guitarra são comuns. Outra coisa, é o domínio da guitarra portuguesa. Mulher num mundo de homens, usa as cordas como voz sem precisar de palavras. É a primeira e, actualmente, a única guitarrista profissional de fado em todo o mundo. Foi distinguida em 2014 pela Fundação Amália Rodrigues com o “Prémio Instrumentista”. Ao vivo, a guitarra portuguesa viaja pelas sonoridades mais tradicionais como o fado e a música portuguesa, mas segue caminhos diferentes como o jazz, as mornas cabo-verdianas, e o chorinho brasileiro.

 

Nenny

 

Sinal dos tempos, a figura feminina mais importante relacionada com o hip-hop português não tem sequer um álbum editado mas se pensarmos que Ivando, o artista português mais ouvido no Spotify em 2021 também não, a surpresa é reduzida a constatação. Filha de pais cabo-verdianos, Nenny tem apenas vinte anos, feitos em novembro, mas causou um abalou nas estruturas com os singles Sushi e Bússola, ambos platinados. Em pouco tempo, Nenny frequentou o popular canal internacional Colors, onde o single Tequilla ultrapassa as quatro milhões de visualizações, assim como um Tiny Desk da NPR. Protegida dos Wet Bed Gang, tem trabalhado com o produtor Charlie Beats, à semelhança do que sucede com o colectivo. O próximo passo está a ser preparado com todo o cuidado, o que se compreende. Quando o copo já está cheio, pode transbordar mas os feitos citados já ninguém lhe tira.

 

Nídia

 

Portugal já tem a sua produtora e DJ de renome internacional. Pode não gravar vídeos para o Colors, showcases com o selo Tiny Desk ou abrir a digressão europeia de Stromae mas Nídia (ex-Minaj) tem prestigiado a produção electrónica, quer com as ediçōes para a Príncipe, recebidas em êxtase pela comunidade electrónica internacional, quer a remisturar (por exemplo, para Kelela), quer a criar instrumentais para gente como Fever Ray. Filha de emigrantes cabo-verdianos e guineenses, nasceu em Portugal mas passou a adolescência em Bordéus. Pilar da Príncipe, diz-se anti-géneros e tem uma assinatura própria dentro da estrutura dessa família sonora. É presença regular no circuito internacional e já esteve em festivais como Primavera Sound e Sónar.

 

 

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