Kalorama. Há um novo festival à vista.
O anúncio da chegada de um novo festival a Lisboa agitou águas. O caso não é para menos. A primeira edição do Kalorama impõe respeito. Arctic Monkeys, Chemical Brothers e Kraftwerk são cabeças de cartaz. Ouvimos dizer que os Ornatos Violeta também são nome grande. E ainda há Chet Faker, Moderat, Blossoms, Peaches, The Lathums, entre outros por anunciar a seu tempo.
Vamos por partes. O primeiro festival da House of Fun, co-produzido com a Last Tour, realiza-se de 1 a 3 de setembro no Parque da Bela Vista, até agora terreno quase exclusivo do Rock In Rio que ali joga em casa desde sempre. É preciso recuar até ao final dos anos 2000 para encontrar outras ocupações deste perímetro: o já longínquo Creamfields na sua única edição lisboeta de 2007 com Prodigy, Placebo, Da Weasel e Soulwax, entre outros, e alguns concertos de estádio como Madonna ou Bon Jovi. A morada do Kalorama é, em si, um facto adstrito a outro. Em grego, kalorama significa… Bela Vista. Tudo se relaciona.
O principal factor de mobilização é, porém, esse grande catalisador de emoções chamado música. Falamos de um cartaz de primeira grandeza, para milhares de pessoas e com impacto internacional. Como se não bastasse serem uma das bandas rock cimeiras do século, e talvez a mais agitadora da juventude dos últimos vinte anos, desde os primórdios de I Bet You Look Good On The Dancefloor, até ao sonho americano de AM, os Arctic Monkeys vão ter novo álbum em 2022 – o primeiro em quatro anos. Não se espera menos que a apresentação em palco para somar a hinos como Do I Wanna Know, R U Mine?, Why’d You Only Call Me When You’re High, Dancing Shoes ou Fluorescent Adolescent.
Quem já teve o privilégio de algum dia assistir ao espectáculo dos Chemical Brothers, sabe que se trata de uma experiência imersiva inesquecível. Não é apenas a música, pujante, elaborada, física, extasiante, nem tampouco a pirotecnia, gigante e aparatosa. É um todo composto por música electrizante, som poderoso e imagem inesquecível, resultante numa produção de grande escala e fôlego, apenas comparável aos maiores planetas da electrónica: os Daft Punk.
Se Tom Rowlands e Ed Simons são históricos, os Kraftwerk são pioneiros. Os cientistas alemães estão para a electrónica como os Beatles estão para o pop/rock: fixaram um cânone. A história da música produzida com sintetizadores e máquinas não seria a mesma sem eles. A memória é determinante para compreender o presente e lançar as bases do futuro, e os Kraftwerk ergueram sólidas fundações ainda hoje resistentes à passagem do tempo e à ausência de música nova desde o single Expo 2000, criado para a exposição mundial de Hannover.
Aquando do seu primeiro ressurgimento em 2012, os Ornatos Violeta foram elevados à condição cimeira de cabeças-de-cartaz de Paredes de Coura – a primeira vez de uma banda portuguesa a encabeçar um festival internacional. Regressariam em 2019 para celebrar os vinte anos de O Monstro Precisa de Amigos, um dos álbuns mais icónicos da música portuguesa do pós-25 de abril, e em 2022 o pretexto está nos trinta anos sobre o nascimento da banda, que começa na matemática emocional aplicada às palavras de Manel Cruz e acaba na secção rítmica coesa de Kinorm (bateria) e Nuno Prata (baixo), passando pelas teclas cinematográficas de Elísio Donas e pela sensibilidade de Peixe na guitarra. Poucas bandas portuguesas viveram tanto depois do fim. Prova da resistência à passagem do tempo das canções desse álbum de 1999 e do inaugural Cão, e de um regresso sem mácula aos palcos.
Há outros iscos. O regresso dos Moderat para mostrar o primeiro álbum em seis anos, e de Peaches para celebrar vinte anos de Teaches of Peaches, clássico instantâneo do electroclash, com forte impulso feminista, do qual faz parte Fuck The Pain Away. Um Chet Faker definitivamente apostado em voltar a ser quem começou por ser – há não muitos anos, andava nas bocas do povo e até esgotou um Pavilhão Atlântico. E de Inglaterra, o rock de Blossoms e The Lathums.
Morada, programação e identidade. O Kalorama apresenta-se como “a experiência real, física e única”, e anuncia preocupações com a sustentabilidade. “O festival está empenhado em implementar um modelo sustentável, capaz de envolver público e parceiros em iniciativas que visam transformar mentalidades e comportamentos”, assume a organização em comunicado de apresentação, prometendo para o efeito “um conjunto de medidas que passam pela inclusão social, transparência de todos os processos, utilização de energias menos poluentes e mais acessíveis, fomento do comércio local, optimização e reutilização de recursos, formação à equipa e parceiros”.
“Uma nova era à espreita”, antecipa a organização, “com tanto para redescobrir” no que é “único e irrepetível”. Argumentos não faltam para passar da vontade aos actos. A seis meses de tomar forma, o Kalorama já é um dos acontecimentos do ano no mapa de festivais.
Os bilhetes encontram-se à venda em: https://www.seetickets.com/pt/event/kalorama-festival/lisboa/2156405
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