Cinco dias para desforrar dois anos de silêncio
Paredes de Coura já é uma instituição. Em 2023, completam-se trinta anos sobre a primeira vez. Uma longevidade admirável para um festival que começou num pequeno município minhoto, ainda para mais vizinho de Vilar de Mouros, onde já havia um outro festival com história.
Poucos se lembrarão e ainda menos terão testemunhado os primeiros anos, apenas e só com bandas portuguesas da região. O cartaz só atravessou a fronteira a partir de 1996 e a partir do final dos anos de 90 com nomes de peso internacional. Este ano, a grande novidade é um quarto dia exclusivo de música portuguesa. Paredes de Coura começa a 16 de agosto com Mão Morta, Sam The Kid com Orquestra e Orelha Negra, Linda Martini, Moullinex, Samuel Úria, Bruno Pernadas, You Can’t Win Charlie Brown e Rita Vian, entre vários outros. O quinto dia de festival é uma gratificação por dois anos involuntários de silêncio que, nem por isso, deixaram de ser reparados.
A partir do dia 17 e até 20 de agosto, entram em cena as figuras de maior cartaz. Tal como o Primavera Sound portuense, que partilha com o Paredes de Coura a organização, também o primo minhoto soube evoluir e compreender o que é hoje o lugar da música alternativa. Durante décadas, esse primado pertenceu às guitarras mas cada vez mais, esse espaço define-se não pela identidade de género musical, ou pelas ferramentas sonoras, mas antes pela ética ou intenção. É o caso de protagonistas como o rapper de atitude punk Slowthai, ou do electrónica cinematográfica de The Blaze.
Porém, nesta edição há ainda uma prevalência de bandas eléctricas. Os incendiários Idles são provavelmente os mais desejados, enquanto os Pixies, em vésperas da chegada do novo Doggerel (30 de setembro), são os mais transversais e familiares. O regresso dos Turnstile, banda emo de aba larga, a estreia de Arlo Parks, vencedora do Mercury Prize para melhor álbum inglês por Collapsed In Sunbeams, as utopias dos Beach House, a explosão de Ty Segall, e o pós-jazz de Badbadnotgood e Comet Is Coming, expōe um cartaz inclusivo da diferença, com lugar também para diferentes disciplinas da electrónica como Kelly Lee Owens, Boy Harsher, Molchat Dorma e Haai, ou afirmaçōes identitárias como as de Yves Tumor ou de Perfume Genius.
Todos os dias, com excepção do primeiro, os concertos dividem-se entre o Palco Vodafone (o maior), o Palco Vodafone FM (destinado a emergências) e o After Hours electrónico. No Couraíso, a música continua a ser água abastecedora do festival. Canal aberto para os melómanos.
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