
Levar a banda favorita para casa
No futuro profetizado por Blade Runner, em 2049, há uma cena com um holograma de Elvis Presley num bar vazio, promissora de uma posteridade por confirmar. Ter o artista favorito disponível quando e sempre que se quisesse, no palco caseiro da sala ou do quarto. Terá sido a evolução tecnológica a falhar os prazos de entrega ou a indústria do entretenimento a defender o insubstituível – a experiência de contacto físico e visual – de perder a patente?
É possível que esta revolução aconteça um dia destes e Kurt Cobain saia do armário. Ou que Jim Morrison se erga da campa until the eeeeeeeennnndddddd. Com ou sem mortos vivos, os fãs andam com as bandas favoritas e artistas icónicos ao peito. O merchandising é uma das formas mais poderosas de criar laços emocionais com o público, e eternizar a relação para além da noite do concerto ou do álbum. Para os artistas, de todas as tipologias e dimensōes, trata-se de uma fonte determinante de receita, sobretudo na estrada. Quem nunca parou nas bancas de merchandising em festivais? Ou nas bandas improvisadas à saída da sala após uma noite eufórica? Há outras plataformas, como lojas digitais, mas esta é a mais popular, eficaz e autêntica.
Podem ser camisolas, chapéus, isqueiros, cartazes ou canecas, além dos já tradicional vinil (e em função da subida dos preços, do CD ou cassete). O fundamental no vínculo é a identidade visual do artista estar espelhada no objecto. E, por vezes, a exclusividade desse mesmo produto – sobretudo no circuito independente. O merchandising já foi um mercado ritualista dominado pelo circuito alternativo. Hoje, está generalizado por todo o ecossistema, desde a pop ao heavy metal. Parcerias com marcas conscientes do poder de comunicação da música são frequentes e bem recebidas.
Campanhas como a Reiimagine, de Beyoncé com a Levi’s, inspirada no clássico anúncio Launderette de 1985, são proveitosas para ambos os lados. No final do ano passado, Sabrina Carpenter e a Dunkin’ lançaram o “Sabrina’s Brown Sugar Shakin’ Espresso”, embalado pelo single global Espresso.
Em junho, a um mês do último desfile como director criativo da Balenciaga, o designer de moda Demna Gvasalia lançou uma colaboração limitada com Britney Spears que inclui T-shirts, hoodies e bonés estilo merchandising e uma playlist com curadoria desta, com duas remisturas inédita do marido do designer, o produtor francês BFRND.
Apesar da impopularidade do autor, os Yeezys de Kanye West continuam a valorizar. Desfeita a parceria de uma década com a Adidas, a procura pelas sapatilhas cresceu 30 por cento em 2023. E no mercado de revenda, as ediçōes limitadas chegaram a atingir preços na ordem dos mil euros.
Se a estratosfera é demasiado inacessível, a gráfica do fundo da rua fica a dois minutos. E até a banda dos melhores amigos tem um rosto, uma identidade visual e um código cromático. Andar na rua com os heróis do dia a dia pode ser uma declaração de amizade e independência. Convém só ter atenção à qualidade dos materiais.
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