
O Brasil, o Irão e Cannes
A selecção brasileira foi a Cannes para vencer. O certame premiou duplamente o Agente Secreto. com a vitória de Kleber Mendonça Filho na categoria de Melhor Realizador e do protagonista Wagner Moura, distinguido como Melhor Actor.
O Capitão Nascimento da Tropa de Elite já estava habituado ao reconhecimento internacional. Em 2008, o filme venceu a Palma de Ouro em Berlim. Em 2013, Moura participou na produção americana Elysium, ao lado de estrelas como Matt Damon e Jodie Foster, e, dois anos depois, foi o narcotraficante colombiano de Narcos, sobre Pablo Escobar, uma das séries de maior sucesso da Netflix.
A história de O Agente Secreto segue um professor (Wagner Moura) que regressa ao Recife para reencontrar o filho em 1977, em plena ditadura, sem saber que a sua cabeça está a prémio. Porém, o júri presidido por Juliette Binoche atribuiu a Palma de Ouro a Jafar Panahi por It Was Just an Accident. Segundo a actriz e jurada, o filme sobre um grupo de cidadãos de Teerão que se debate com a hipótese de se vingar do homem que os torturava na prisão. oferece ternura e compaixão. Importa referir que as escolhas de “cinema do mundo”, do Irão, do Brasil, e não só, castigaram as produçōes americanas.
Panahi realizou o filme clandestinamente no Irão, sem autorização oficial, contra uma proibição histórica de 20 anos de filmar imposta pelas autoridades iranianas. Trata-se de uma coprodução entre o Irão, França e Luxemburgo, com pós-produção concluída em França. O filme (e a vitória em Cannes) gerou polémica no Irão. O governo iraniano convocou o diplomata francês em protesto contra os elogios ao filme, considerando-o uma “mentira” e politicamente engajado.
Já o Grand Prix foi para o novo filme de Joachim Trier, “Sentimental Value”, um drama familiar sobre duas irmãs que reencontram o pai ausente após a morte da mãe. A portuguesa nascida em Cabo Verde, Cleo Diára, foi distinguida com o prémio de Melhor Atriz na secção Un Certain Regard do Festival de Cinema de Cannes, pela sua interpretação em “O Riso e a Faca”, a mais recente longa-metragem de Pedro Pinho.
Em declarações à Antena1, em Cannes, Cleo Diára manifestou gratidão pelo prémio e fez questão de lembrar que é “uma imigrante em Portugal no momento em que os imigrantes não são bem-vindos”. “Quero que fique bem assente que eu sou uma imigrante”, vincou. “No modo geral, quero que todas as raparigas e mulheres negras da periferia nunca se esqueçam de que a utopia é o último estágio antes da possibilidade do real.”
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