10 novos portugueses para descobrir no verão
Deixemos as bombas e olhemos para os bombos. Nunca houve tanta música a ser produzida e consumida em Portugal. O estigma do ser português deu lugar a uma nova relação do público com a música portuguesa. Mais franca e auto-confiante de si mesma. Muita música para descobrir e pouco tempo para procurar? Nós ajudamos. Uma dezena de nomes com sangue novo a fervilhar que vão estar nos festivais de Norte a Sul à espera de fazer amigos entre desconhecidos e anónimos.
Rita Vian
Uma das vozes do chamado novo fado. Surgiu com os Beautify Junkyards, contracenou com Mike El Nite em “Carmen” e desde aí se percebeu que tinha um caminho próprio pela frente. O EP “Caos’a” do ano passado é revelador de um talento seguro. A voz é límpida e as palavras claras, quase evocativas do canto de Teresa Salgueiro nos Madredeus. O texto deita-se na música contrariando as tradições do fado, não falam da Madragoa nem de varinas. O mundo de Rita Vian é o de agora.
Vado MKA
Quem diria que o rap crioulo andaria nas bocas do país? É um fenómeno com raízes escolares, na linha de outros como aprender a dançar kuduro. Assim se mudam comportamentos e se educam gerações. A música tem um poder transformador incalculável e Vado MKA, nascido no Bairro 6 de maio, na Damaia, é uma das grandes figuras de um movimento que não se esgota em Julinho KSD. O hino “Amor Próprio”, de início de anos, tem mais de 500 mi visualizações em cinco meses. É obra.
Tem ascendência brasileira, cresceu no Barreiro, mas corre-lhe o sangue das metrópoles. Cabe um planeta em Shaka Lion, alter-ego de Raul Windson. É um vulcão à espera de acontecer, um DJ com uma energia tão contagiante e transmissível que até para quem não se identifique com uma selecção recheada de edits, que podem ir dos clássicos de R&B, às estátuas de música brasileira, se torna difícil ficar indiferente. Reúne em DJ set uma vivência suburbana desassombrada a uma vanguarda em rotação permanente.
Vai estar no: Sumol Summer Fest
Se há figuras que pela sua capacidade unificadora, transformam as regras do jogo, Eu.Clides pode ser muito bom uma delas, quando o álbum de estreia der corpo a todo o talento disponível. Depois de anos a partir pedra, quase sempre sozinhos, a trepidação dos Buraka Som Sistema causou por fim danos na estrutura da música portuguesa. Entre muitas consequências possíveis, de Pedro Mafama a Dino D’Santiago, Eu.clides faz moça a trabalhar elementos rítmicos ligados ao afro-house numa estrutura modelar de canção. Venham Mais Sete já é um dos sabores deste verão.
Vai estar no: NOS Alive
Alter-ego da açoreana com anos de vida no Alentejo, Maria Bentes, Silly impressionou de tal forma com o EP “Viver Sensivelmente” que imediatamente recolheu comparações com Slow J – vénia. Trabalhou com figuras como os produtores Charlie Beats e Pedro da Linha, além do já citado Eu.clides. A ligação ao hip-hop, quer através do verbo, quer através das escolhas instrumentais, é evidente mas as canções reveladas transcendem o género musical e são reveladoras, isso sim, de uma personalidade ainda em construção mas especial.
Vai estar no: NOS Alive
A solo, surgiram na primeira vaga democratizadora quando as redes sociais permitiram novas formas de comunicar e criar. Juntos, David e Miguel são a dupla infalível de “Inatel” e do delicioso “Palavras Cruzadas”. Um álbum para acompanhar passeios pelo país, sobretudo Norte e interior, sem vergonha dos verões na casa de família, nem dos coretos ou das capas para o comando da televisão. Mais do que uma sátira, é um tributo com ares de programa de rádio local.
Vai estar no: Super Bock Super Rock
Fado Bicha
Contra o silêncio, vai cantar-se um outro fado. O fado dos precários, oprimidos e marginalizados. Bairrista sim, mas pouco tradicional, fazendo tábua-rasa do caldo verde, da roupa branca e do romantismo patriarcal. Depois de se terem revelado em circuitos paralelos, de terem erguido a bandeira no Festival da Canção, os Fado Bicha estreiam-se álbum com Ocupação, produzido por Moullinex, em nome da causa LGBT.
Vai estar no: Festival de Sines
Cátia Mazari Oliveira não é exactamente uma novata mas ainda está a tempo de ser uma boa nova para muita gente. 2 de Abril, o álbum que serve de homenagem ao bairro onde se fez A Garota Não, em Setúbal, já é o segundo de um percurso ascendente mas tudo é ainda bastante recente. Voz de poesia profunda, cronista de desigualdades sociais mas também observadora do belo, eis uma figura que veio para ficar na música portuguesa.
Vai estar no: Bons Sons
Os Dead Combo deixaram descendência em figuras tão díspares como Pedro Mafama ou O Gajo e em colectivos como o Expresso Transatlântico. A herança mais óbvia está nos Club Makumba, mesa a que se sentam Tó Trips (Dead Combo), o motor rítmico João Doce e os Gonçalos Prazeres e Leonardo. Toda e qualquer semelhança não é pura coincidência: o ambiente western cinematográfico, o veneno doce e o vudu hipnotizante são comuns, mas três das personagens são outras. E a história também.
Vai estar no: Vodafone Paredes de Coura
Em Portugal, o novo jazz tem tido dificuldades em deixar os livros para trás e mudar mentalidades. Há algumas abertas no nevoeiro mas ainda sem força para virar a página. Os Yakuza estão entre as excepções. Fortemente inspirados pela escola inglesa de Kamaal Williams, deixam a electrónica conduzir o jazz com adrenalina por curvas e lombas. Não podiam cair melhor num festival como o Lisb’On.
Vai estar no: Jardim Sonoro
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