Concertos com História #13: Prince no Super Bock Super Rock (2010)
Nas suas diferentes encarnaçōes, o Super Bock Super Rock instalou-se no Meco em 2010 depois de um ano único e atípico de uma noite só no Porto e em Lisboa. No norte, problemas de saúde de Dave Gahan impediram os Depeche Mode de encabeçar a noite no Estádio do Bessa XXI. Os Xutos & Pontapés foram chamados de emergência ao local e apagaram o fogo. Em Lisboa, uma semana depois, os Killers deram um concerto com várias primeiras partes: das bandas rock The Walkmen e Mando Diao, e das cantoras Brandi Carlile e Duffy, surgida no mesmo pós-Amy Winehouse de Adele, e que se afastaria dos holofotes sem deixar rasto, até, em 2020, justificar a partida por ter sido vítima de sequestro e violação, sem adiantar mais detalhes.
A mudança para a Margem Sul devolveu o Meco a um modelo tradicional de festival, com três noites e três palcos. Com uma nuance. A organização procurava sincronizar uma programação citadina com uma experiência estival, semelhante à do Sudoeste, com praia e campismo, para, dessa forma, diferenciar-se da concorrência do Alive. O bilhete diário custava 40 euros e o passe 70. Para se ter uma ideia, só o bilhete diário deste ano custava 72 euros.
A distância faz das notas no bloco memórias distantes, provavelmente esquecidas até por quem as viveu. O peso da cultura indie era enorme (St. Vincent, Beach House, Temper Trap, Grizzly Bear, Hot Chip, Vampire Weekend, Julian Casablancas, Patrick Watson, Rita Redshoes, Spoon, The National, Empire of the Sun, Wild Beasts), o primeiro dia no palco EDP (segundo em dimensão) com St. Vincent, Beach House e Grizzly Bear era de quem tem olho e ouvido para o assunto, o SBSR quis tanto ser o Sudoeste que durante o baile dos Vampire Weekend o pó ofuscou o palco como um ecrã negro (nos anos seguintes, houve a preocupação de arrelvar as zonas mais pisadas do terreno), o funk era mem’bom (Jamie Lidell, Mayer Hawthorne e Sharon Jones) e de hip-hop nem um verso ou subgrave. Eram de facto outros tempos. Tudo certo no cartaz e a resposta do público foi condizente mas ainda faltava o toque de púrpura.
A 27 de maio de 2010, Prince era anunciado como “a última grande atracção do festival”. A inesperada confirmação era justificada com a “paixão pelo fado, personificado na fadista Ana Moura, que o fez deslocar-se a Lisboa, em 2009, e com quem tem intenção de trabalhar”. Gerou-se um mini-efeito eucalipto com a noite final do festival a secar as duas anteriores, mas o pior seria…o trânsito. Quem passou o dia na praia e se encaminhou para o Meco por volta do jantar sofreu com as dores do acesso ao Meco. Domingos de verão costumam afunilar na ponte 25 de abril no sentido Costa – Lisboa mas a 18 de julho de 2010 deu-se o inverso. A caminho da A2, o trânsito empancava. E quanto mais as faixas se estreitavam na estrada da Lagoa de Albufeira, mais lenta a marcha e maior a frustração. Houve quem perdesse o concerto por isso e as queixas começaram na própria noite.
Figura singular, em todos os sentidos, pela excentricidade, resistência e magnetismo, Prince teve a sua própria história em palcos portugueses. A estreia ocorreu em 1993 em Alvalade, na época de estádios, quando ainda era uma figura transversal e omnipresente na televisão. Voltaria cinco anos depois, a 15 de dezembro no Pavilhão Atlântico, poucos meses após a Expo 98, seguido de um after para privilegiados, com direito a jam session, no Lux. O concerto no SBSR seria o terceiro em Portugal, e o único em festival. Em nome próprio, Prince dava-se à liberdade absoluta e obrigava a plateia a seguir-lhe os desejos. Em festival, Prince ajustou-se com um alinhamento antológico. Recordou o funk luxuriante de Cream, U Got The Look e Controversy, e para gáudio do “centrão” – nesta época, os festivais ainda não eram um fenómeno banalizado de massas como agora -, a balada Nothing Compares 2 U.
“Minutos depois da primeira saída de palco”, descrevia a reportagem de Mário Lopes no Público, “a primeira grande surpresa da noite”. Se a presença de Ana Moura não espantou, já a cedência de protagonismo à fadista causou algum espanto. E esta, apesar de algum nervosismo, não desaproveitou encantando até o próprio Prince com A Sós com a Noite e a popular Casa da Mariquinhas. Depois, celebração com Kiss e melancolia com Purple Rain. Ainda havia uma última estação: Dance (Disco Heat) de Sylvester para fazer a festa final.
Um Prince em velocidade de cruzeiro é sempre um acontecimento e a morte prematura em 2016 só ajudou a fazer da penúltima aparição em Portugal uma noite histórica.
Comments are closed.